instalação
86 fotografias riso, audioguia (17 min), ímanes, alcatifa, vinil, som espacial (41 seg)
4 x 4m
2023
1932
Olhando para a janela parece que chove, uns chuviscos constantes, mas lentos. Na massa de corpos que enche o quarto em redor do bebé avermelhado conto um total de 17; crianças, possíveis parteiras,
ou vizinhos que vieram em auxílio ou simplesmente para assistir. Entre choramingos e algumas vozes agudas, fazem uma pausa: «Chamar a nós os melhores valores construtivos da sociedade portuguesa e
formar no estudo, na obediência e na disciplina os futuros chefes.»*
Dão algumas palmadas ao bebé que agita os braços vermelhos e chora pela primeira vez. Chama-se Armandina Ferreira.
*Referência: excerto - Discurso de Salazar quando assume chefia do governo
“Armandina Ferreira” é uma instalação centrada num corpo que viveu entre duas metades temporais - num tempo antes e depois da revolução, e que, embora individual, não é único no Portugal atual.
Como mostrar a tortura, a manipulação e o trauma geracional perpétuo, quando não há vestígios físicos/corporais como prova? Como contar ou transmitir um testemunho de algo intangível e íntimo?
Como revelar violência traumática através de imagens que, num primeiro encontro, não a reproduzem?
Este trabalho gira em torno do retrato de Armandina Ferreira (a minha avó materna), através de uma coleção de memórias familiares, arquivos fotográficos, imagens especulativas e acontecimentos históricos que moldam o fantasma da sua
identidade. Através de uma visão em túnel desta narrativa concreta - a de Armandina e da sua família - este trabalho pretende expandir, refletir e estabelecer um paralelo com a contemporaneidade. Este memorial surge da necessidade de recordar:
olhar o passado com o olhar crítico do presente para que outro futuro possa ser imaginado.